sexta-feira, setembro 03, 2010

Melhor companhia


Senti que aquele amor de infância estava voltando. Literalmente. Havia me abandonado há um ano, depois de um fato mal entendido. Não me abandonou por raiva, nem porque queria me fazer sofrer, me abandonou por pensar que seria o melhor para mim, foi o que ele disse momentos antes de ir embora. Ele estava voltando do Canadá, e voltando para a minha vida. Uma noite antecedente a chegada do meu amor passado, talvez presente, foi uma tortura, admito que passei a noite toda pensando em como seria encontrá-lo novamente depois de tudo. De todo o sofrimento, de toda a tristeza, e de toda infantilidade da minha parte. Aquela noite passada em claro foi em vão, tudo o que pensei que possivelmente aconteceria, não aconteceu. O inesperado me pegou. Encontrá-lo não foi nenhum bicho de sete cabeças, e mentirei se dissesse que foi o momento mais romântico, foi só... Emocionante. Abraçamos-nos, como da primeira vez, nos olhamos como da primeira vez. Esperava, com todas as minhas forças, que o nosso passado obscuro não atrapalhasse nosso presente até que promissor. E como eu desejava, o passado não atrapalhou. Não sei se na mente dele, tudo o que nós passamos continuava a perturbá-lo. Mas em minha mente sim, não só nessa noite de verão, como em todas as outras noites de inverno, verão, outono, primavera do ano mais demorado que já passei. Não conseguia esquecer as vezes que ele dizia me amar, e eu não me importava em responder ou se aquilo era real, as vezes em que ele vinha correndo me ver depois daquela briga feia com a minha mãe, e até das vezes que eu chorava por causa daquele jogador de futebol da minha turma que tinha me feito de boneca, apesar de ele ter avisado-me que esse jogador de quinta faria uma dessa, naquele momento ele não disse ‘ eu te avisei ‘, na verdade, não disse nada, me abraçou, enxugou minhas lágrimas, enquanto segurava as suas. Todas essas noites perturbadoras, de pensamentos intensos, eu percebi, que ele era tudo o que eu procurava naquele que nunca poderia me dar. Tive sorte, tenho consciência disso. Quando ele se foi, eu passei a dar valor, mas aquela famosa frase ‘ você só passará a amá-lo, quando ele não te amar mais ‘ chegou perto de acontecer comigo, mas não aconteceu. Eu passei a amá-lo, e ele continuou a me amar. Continuou sendo o meu melhor amigo, o meu melhor companheiro, continuou tendo melhor cheiro, o melhor abraço. Continuou sendo a minha proteção. Passou a ser meu porto-seguro.

Agora sei que estou com a melhor companhia.

Gabriella Donato

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